Divisão dialetal

Em 1922, ao publicar O linguajar carioca, Antenor Nascentes refere-se, citando Serafim da Silva Neto (Introdução ao estudo da língua portuguesa no Brasil), à grande dificuldade que se apresentava para a divisão do Brasil em áreas lingüísticas “a falta de determinação de isoglossas” (NASCENTES, Antenor. O linguajar carioca. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1953, p. 20).

Examina Nascentes as propostas de divisão dialetal do Brasil existentes, mencionando as que apresentam Júlio Ribeiro e Rodolfo Garcia. Depois disso, propõe uma divisão do Brasil em áreas lingüísticas, na primeira edição do seu livro sobre o linguajar carioca (1922). Mais adiante, ao publicar a segunda edição desse livro, declara que “Quando fiz aquela divisão, havia percorrido pequena parte do nosso território” (1953, p. 23), acrescentando, mais adiante, à página 24, que "Hoje que já realizei o meu ardente desejo de percorrer todo o Brasil, do Oiapoc ao Xuí, de Recife a Cuiabá, fiz nova divisão que não considero nem posso considerar definitiva, mas sim um tanto próxima da verdade."

A proposta de Nascentes, como indicada no mapa, estabelece uma grande divisão lingüística no Brasil: falares do Norte e falares do Sul, tomando como base “a cadência e a existência de protônicas abertas em vocábulos que não sejam diminutivos nem advérbios em mente” (p. 25). Afirma que “Basta uma singela frase ou uma simples palavra para caracterizar as pessoas pertencentes a cada um destes grupos” (p. 25). Como se observa no mapa, cada uma dessas duas grandes regiões compreende subfalares.

Nenhuma outra divisão foi dada a conhecer após a de Nascentes.

Em 1986, em trabalho intitulado Tinha Nascentes razão? Considerações sobre a divisão dialetal do Brasil, Cardoso (In: Estudos Lingüísticos e Literários. 5. Instituto de Letras/UFBA, 1986, p. 47-59), a partir do que se registra no Atlas Prévio dos Falares Baianos (NELSON ROSSI et al. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro/MEC, 1963) e no Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais (JOSÉ RIBEIRO et al. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa/Universidade Federal de Juiz de Fora, 1977), examinou as ocorrências das vogais médias pretônicas nessas duas áreas e observou que a isoglossa estabelecida por Nascentes para limite desse fato, nessa região, foi confirmada com os dados geolinguísticos atuais.

A perspectiva de concretização de um atlas geral do Brasil, no tocante à língua portuguesa, haverá de permitir o traçado das isoglossas reclamadas por Serafim da Silva Neto e Antenor Nascentes em meados do século passado. 

 

Fonte: BARBADINHO NETO (2003, p. 700)